3.15.2007

O sentido da vida numa fila de trânsito.

Quando nos deparamos com uma enorme fila de trânsito, e havendo a possibilidade de nos metermos à cão, temos duas hipóteses: pararmos no fim da fila ou metermos à cão. Mas há nuances... e temos:

Os gajos que metem sempre à cão. São gajos que não sabem o que é o sentido cívico e que se estão a cagar para o próximo. Naturalmente, são criaturas imbecis e mereciam morrer. Ou não, talvez sejam criaturas tão inteligentes que percebem que é idiota esperar numa fila de trânsito quando se pode meter à cão muito mais à frente poupando tempo precioso.

Os gajos que param e esperam sempre tranquilamente no final da fila. São gajos com sentido cívico que percebem que não vivemos na selva. Têm consideração pelo próximo. Mas, pensando melhor, talvez sejam idiotas e mereçam morrer - afinal, quem é que espera tranquilamente no final de uma fila enquanto vê os outros passarem-lhe à frente?

Os gajos que têm dias. São gajos que ora esperam no final da fila, ora metem à cão e entram em cima da zebra. Posso dar de barato que às vezes temos mais pressa, ou estamos mais atrasados, mas isso não justifica uma dualidade de critérios que, do ponto de vista cívico e estrutural, não deixa de ser preocupante. Temos espinha ou somos alforrecas?

Os gajos que param e esperam no final da fila mas que ficam tão furiosos quando vêem os outros meter à cão que perdem anos de vida. Estes tipos podem parecer criaturas sensatas - afinal têm sentido cívico e fazem o "certo" num mundo "errado" - mas acabam por se revelar indivíduos sinistros pois sabem de antemão que se vão chatear quando virem alguém meter à cão e aceitam esperar civicamente no final de uma fila enquanto os outros se metem à cão. É andar à chuva para nos molharmos; e queixarmos.

Moral da história: na vida, tal como nas filas de trânsito, há atitudes mais correctas e atitudes menos correctas; há quem perca facilmente a razão e não há quem seja sempre sensato ou faça sempre o "correcto". Mas uma coisa é certa (pelo menos para mim): de todas estas criaturas, as mais perigosas são aquelas que param e esperam no final da fila mas que ficam tão furiosas quando vêem os outros meter à cão que perdem anos de vida. Claro que é fodido tentarmos ser cívicos e vermos cabrões foderem-nos a vida. Mas é bem mais grave entrarmos num jogo cujas regras nos são tão familiares e não pararmos de as criticar numa luta inglória que só leva ao desgaste. Por outro lado, uma vez que optamos pelo "menos certo", pelo meter à cão, perdemos a razão para criticar seja o que for. Não é que sejamos más pessoas, apenas não faz sentido estarmos a criticar os outros. Afinal, quando nos rogamos o direito de meter à cão só porque os outros metem à cão, estamos a fazer com que o pobre idiota que aceita esperar na fila sem se chatear chegue a casa quando o jantar já estiver frio... depois de todos nós.

Dir-me-ás que andas de mota e que as filas de trânsito não são para ti um problema, dude... mas ok...

6 Comments:

Blogger sarrafo said...

O direito à critica (reconhecida ou não) é universal. Um gordo pode-te dizer que estás gordo, um tetraplégico dizer-te que corres devagar(ainda assim um pode-se escudar na "it's glandular in my case" e o outro poder-se-à escudar em ter sido atleta de 60 m barreiras, antes de ter caído do cavalo)

O facto de aproveitar as brechas entre os condutores, poder estacionar em quase qqr lado sem pagar nem ter que me chatear com carochos, ter mobilidade notória, não me importar com a chuva que apanho no fato, chegar depressa onde eu quiser e sentir-me fora de um aquário acolchoado, justifica o facto de ser motard. Poderás dizer que estou sempre a ir ao chão e que o meu pára choques é o corpo, mas eu sinto que aprendo com cada queda, com a merda que faça e com as merdas que fazeis,´sabe bem sobreviver à sapateirice.

Talvez me foda todo da próxima espeta que tiver, mas concerteza que não será provocada por ver um lugar de estacionamento e meter-me à cão prá fila seguinte, tão pouco, porque tenha um SLK e me tenha apetecido passar um vermelho e abalroar um motard num cruzamento e seguir viagem, muito menos por me meter numa fila diferente e dar uma pázada a um motard atirando-o contra mais dois veículos, nem sequer por não olhar para a frente e não ver que vem alguém de frente na estrada em que estou, e mesmo muito menos será por sentir o conforto de me sentir dentro de uma caixa metálica com assentos confortáveis, a cortar as unhas, tirar macacos do nariz, ler um jornal, falar ao telemóvel, onde se fizer alguma merdita que outra, é um risco, ou uma amolgadela, ai desculpe não o vi, ou pensei que tinha espaço, ou ai eu fiz tudo bem, ouvi uma travagem e a seguir um estrondo.

11:45 da tarde  
Blogger Marsalho said...

That's not the point, dude...

1:34 da manhã  
Blogger sarrafo said...

Exactly!

2:10 da tarde  
Blogger Camélia said...

Não arranjas mais um parágrafo sobre aqueles que esperam no final da fila e que, ao ficarem furiosos qdo vêem os outros "meter à cão", vão atrás deles? Ou aqueles em que qualquer dia fazem como o M. Douglas no "dia de raiva"?

3:11 da tarde  
Blogger marsalho said...

Gajos à Michael Douglas são heróis! Gajos que esperam na fila e acabam por se passar e ir atrás dos que metem à cão são alforrecas - como tal, merecem morrer.

(aqui entre nós, eu próprio às vezes mereço morrer, cof cof)

6:48 da tarde  
Blogger Camélia said...

Merecemos, Marsas, merecemos. Nós não somos dignos deste planeta :S

6:58 da tarde  

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