3.29.2006

Gosto de por caras nos nomes. Mais: gosto de por caras nas vozes. Por vezes, o trabalho obriga-nos a relações em que acabamos a falar com alguém durante meses e anos sem nunca nos conhecermos pessoalmente. Vamos criando imagens mentais. Imagens viciadas por outras relações que mantemos. Imagens viciadas pelo estilo da escrita que lemos. Imagens viciadas pela entoação das conversas telefónicas. Imagens viciadas pela forma como a outra parte reage a imprevistos. Hoje conheci pessoalmente a Margarida. Falo com ela há quase dois anos. Sempre a imaginei a atirar para o boa, embora no campeonato do filme porno. Imagino que ouvi-la passada ao telefone tenha ajudado a construir essa imagem. Imagino que os mails dela com frases tiradas de uma rima de hip-hop e linguagem SMS tenham ajudado a moldar essa imagem. A Margarida sempre deu luta - aí tiro-lhe o chapéu. Mas sempre a mantive controlada. Afinal, isto não é o da Joana. Ao longo dos tempos, tenho conhecido muitas caras que nada têm a ver com as caras que imagino. Não foi o caso da Margarida. A Margarida é exactamente o que eu imaginava. Reconheci-a no meio da multidão, como se fossemos as únicas pessoas ali. Apesar de um pouco mais baixa e mais magra do que imaginei, a Margarida atira para o boa - no campeonato do filme porno, lá está. Tal como ao telefone, também frente a frente a Margarida é impulsiva. E, por algum motivo, tal como ao telefone, também frente a frente lhe imponho algum respeito. Gosto de por caras nos nomes. Mais: gosto de por caras na vozes.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que engraçado... O meu trabalho tb me obriga a falar constantemente ao telefone, mas ao contrario de ti, normalmente não tenho de esperar tempos e tempos para ver essa pessoa pessoalmente,mesmo sendo (geralmente) uma conversa breve, imagino SEMPRE a cara da voz k oiço do outro lado...

6:20 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home