4.18.2006

Quem me conhece, facilmente adivinha a minha opinião sobre o espalhafato da comunicação social à volta do recente (e infeliz) episódio da morte do jovem actor dos Morangos com Açucar. Quem me conhece, facilmente adivinha também que para mim este não é o único episódio infeliz; são deveras infelizes todos os episódios que estão no ar há anos e anos e anos. À partida, isto nem seria tema para um blog sério como este. Claro que fico chocado quando vejo um jornal supostamente sério como o JN fazer manchete com, e passo a citar: "«Ó mãe! Então tu disseste que o Dino morreu e ele está nos Morangos com açúcar e até está alegre?!» Maria entrou há pouco mais de um mês nas estatísticas da televisão. Aos quatro anos, faz parte do grupo de portugueses que mais consome a telenovela juvenil da TVI. E anteontem, quando teve de confrontar a verdade com a ficção, perdeu-se." Pensei que fosse o 24horas, ou mesmo o Correio da Manhã, mas não, era o JN. Até aqui tudo bem, o país está perdido, nada de especial. Não só os putos vêem os Morangos com Açucar como os pais que (não) os acompanham não lhes explicam a diferença entre a televisão e a vida real. Até aqui, tudo bem. Já Jerry Mander tinha publicado há uma década uma tese sobre a real perversão da televisão enquanto instrumento limitativo e atrofiante. Por isso, até aqui tudo bem. Não obstante, qual não foi o meu espanto quando hoje entrei no Carrefour de Oeiras e dei de caras, logo à entrada, com um gigantesco expositor de livros ou CDs (sei lá) dos Morangos com Açucar (com fotos dos gajos e tudo o mais). Um expositor de dimensões só superadas pelas dimensões das prateleiras onde se promove o Xampa. Fiquei a olhar, embasbacado. E interroguei-me se algum estratega do marketing teria tido a brilhante ideia de colocar ali o expositor, depois do acidente de domingo, ou se, pelo contrário, o expositor já lá estava e o acidente do jovem teria caído que nem ginjas. Fosse como fosse, não consegui encontrar nenhum argumento suficientemente forte para não querer fugir para o Nepal. Lá contornei o expositor - sim, porque aquilo era imponente e estava mesmo em frente à entrada - e continuei corredor adentro, onde me deparei com uma fantástica promoção de toalhas e almofadas - que aposto estarem a vender muito menos que os livros ou CDs dos Morangos com Açucar.

3 Comments:

Blogger sarrafo said...

nada de isso me aquece ou arrefece jovem... terei perdido o bichinho???

12:43 da manhã  
Blogger marsalho said...

Espero ter perdido o bichinho também. Fiz análises há uma semana, para contagem da bicheza. A ver se foram todos às suas vidinhas... caso contrário estou a ver o médico ucraniano a enveredar por métodos menos ortodoxos. Ai!

1:21 da manhã  
Blogger tixa ® said...

"não obstante", adoro quando se usa numa frase! os meus parabens! ;)
"contagem da bicheza"... hmmm... atenção querido marsalho, que isso pode ser lido de forma duvidosa!!! lol

2:54 da tarde  

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