6.14.2006

A 100 metros do bairro pseudo-chique onde moro (e onde vivem também políticos e jogadores da bola têm casas de férias) existe uma igreja. É a igreja da vila, situada fora do centro. No espaço da igreja existe também um Centro Comunitário. Algo que eu nunca percebi ao certo o que é. Por mais que uma vez, tentei entregar ali roupa usada (no bairro onde morava quando era criança era ao lado da igreja que se entregava a roupa usada). Mas a única porta por ali que acabava por encontrar aberta era a porta da própria igreja. Os blocos contíguos (do Centro Comunitário?) tinham sempre as portas fechadas. E as grades nas janelas davam um ar de abandonado à coisa. Vinha-me embora e acabava por entregar a roupa à minha mãe. Hoje tinha roupa para dar. E decidi tratar do assunto. Liguei para a Junta de Freguesia e disseram-me que estava tudo de férias, que ninguém me podia ajudar (duh). Decidi ir à igreja. Estava determinado a encontrar a entrada daqueles blocos brancos, do sítio-onde-se-deixa-roupa. Alguém ali dentro receberia a roupa de bom grado. Ou encaminhar-me-ia para quem de direito. Após esbarrar em algumas portas fechadas e de andar por ali às voltas acabei por encontrar uma porta aberta. Estava dentro do Centro Comunitário. Havia placards com anúncios e informações, listas de actividades e coisas do género. Havia uma Secretaria, sem ninguém. Havia uma sala da Direcção, sem ninguém. Havia uma pequena cozinha, sem ninguém. Havia uma enfermaria, sem ninguém. E havia MONTES de velhos. Tipo refeitório de uma prisão. Montes e montes de velhos. Não pareciam velhos doentes como aqueles que se vêem no Centro de Saúde. Apenas velhos sem nada para fazer. Velhos sozinhos a fazerem companhia uns aos outros. Quem me conhece sabe que tenho fobia à velhice. De tal forma que prefiro o suicídio aos 30 a aceitar a penosa "3a idade". Obviamente, senti um choque. Ali, naquele Centro Comunitário (que finalmente percebera o que era) deste bairro pseudo-chique. Continuar a falar da velhice e da solidão parece-me, neste momento, perfeitamente redutor. Apenas não quero ser velho. É só. Apeteceu-me fazer companhia àqueles velhos... mas não ia ser capaz. Depois de bater em tudo quanto era porta lá apareceu uma senhora com os seus 30 e tais [momento Sarrafo: a gaja era mesmo gira, ultra-simpática; por momentos apeteceu-me convidá-la para um café e pedi-la em casamento] Com um sorriso ternurento explicou-me detalhadamente o que faziam à roupa. A roupa lá ficou... e os velhos também...

2 Comments:

Blogger sarrafo said...

hum e quantas memórias tb por lá deixaste não?

2:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Adorei este post. Bjinhos

3:42 da tarde  

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